Análise à Airbus: Levanta voo ou tem de aterrar de emergência?
A Airbus apareceu no meu radar por relação inversa à Boeing.
Passo a explicar…
A Boeing tem tido uma performance miserável desde os seus ATH, em 2019, caindo aproximadamente 66%. Mesmo que vejamos a queda após a COVID para eliminar qualquer enviesamento que possa haver, a empresa caiu aproximadamente 44%.
E, para além das ações, tem tido má fama desde as quedas das suas famosas aeronaves 737 MAX. O primeiro acidente foi em outubro de 2018 e o segundo em março de 2019. Essa má fama fê-la merecer um documentário da Netflix só para si, que por acaso achei interessante.
E foi no meio desse documentário que me lembrei… Quando se fala de grandes aviões (entenda-se aviões comerciais), fala-se e Boeing e Airbus, um verdadeiro duopólio. Então o raciocínio foi simples… A Boeing a ter esta fama pode encaminhar clientes para a outra empresa e poderia haver aqui uma oportunidade.
Apesar de saber que pode não ser assim tão simples, a verdade é que fui pelo instinto ver a airbus e até descobri uma empresa bem gerida, como vamos ver…!
Primeiro temos de perceber as três fontes de receita da Airbus
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- Airbus – Nesta área a Airbus desenvolve, fabrica, comercializa e vende aviões comerciais com capacidade superior a 100 lugares (é a principal fonte de receita da Airbus). Inclui também aviões de carga e aviões regionais turboélice, além de componentes e serviços de conversão de aeronaves.
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- Airbus Helicopters – Foca-se no desenvolvimentos, fabrico, comercialização e venda de helicópteros civis e militares, além de serviços associados. Também fornece peças e suporte técnico.
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- Airbus Defence and Space – Engloba sistemas militares aéreos e espaciais. Esta área dedica-se ao design, desenvolvimento, entrega e suporte de sistemas aéreos tripulados e não tripulados, bem como serviços de inteligência, segurança cibernética e comunicação segura. Inclui ainda o desenvolvimento de sistemas de mísseis e lançadores espaciais, através de joint ventures (parcerias basicamente).
Como podes ver em baixo, a área “Airbus” garante aproximadamente 72% das receitas da empresa.

Uma das minhas preocupações foi a época COVID e como isso afetou a empresa. Até porque se bem te lembras deixou de haver aviões nos céus e as encomendas foram anuladas ou adiadas. Isso é um problema para uma empresa que 72% das receitas vem precisamente daí.
Portanto, já que começámos a falar nas receitas da empresa, vamos dar continuidade nos seus fundamentais.
Aqui vamos nós…
A nível de receitas a empresa viu-as decrescer no período COVID. Mas não foi caso único. Em 2017 também viu um decréscimo face a 2016, com posterior aumento para valores recordes em 2019. Ainda não chegámos a esse topo, mas em 2023 a empresa andou consideravelmente perto.
A margem bruta tem sido algo volátil desde 2016 até 2023, pelo que vai merecer especial destaque um pouco mais à frente, para percebermos o porque.
O EBITDA tem estado superior a 2019, o que é um bom sinal, mas vindo a decrescer face ao ano de 2022.
No balanço da Airbus, os ativos conseguem cobrir os passivos, apesar de estes estarem quase em pé de igualdade. Esta situação deve-se, em grande parte, ao modelo de negócio da empresa.
Isto porque a empresa recebe pagamentos antecipados pelas encomendas que têm de ser entregues posteriormente. Estes valores são registados nas rubricas “unearned revenue current” (se for esperado que sejam reconhecidas no curto prazo, geralmente menos de um ano) ou “unearned revenue non current” (se a lógica for superior a um ano).
Uma vez realizada a entrega, o valor aí registado passa a ser reconhecidos como receita, deixando de ser considerado um passivo.
Na imagem de baixo podemos ver que estas duas rubricas constituem quase metade dos passivos.
Por isso, não faz moça esta proporção entre ativos e passivos e está longe de ser preocupante.
E já me estava quase a esquecer aqui de um pormenor delicioso (sim, tive de voltar atrás para escrever isto ahah). A Airbus tem Net Debt positivo, ou seja, tem mais dinheiro em caixa do que o seu total de dívidas. Na prática, se a equipa de gestão quisesse, deixaria de ter dívidas, o que lhe permite uma flexibilidade extra.
Outro ponto positivo é que a empresa vê o seu lucro líquido superior ao que era em 2019, mantendo um Fluxo de Caixa Livre também superior àquele ano (lembrem-se – apesar das receitas serem inferiores), o que se traduz, claro, numa melhor margem dos FCF.
Tudo isto permitiu à empresa tomar a decisão de pagar um dividendo extraordinário em 2024.
E já que entrei na forma de recompensa do acionista para além da possível valorização da cotação da ação, esta empresa fá-lo essencialmente na forma de dividendos já que a recompra de ações não são significativas.
O dividendo está atualmente a ser pago com uma Dividend Yield de 1,2% e, apesar da opinião dos analistas valer pouco para a minha tese de investimento, os analistas preveem um crescimento do mesmo nos próximos anos. Apenas não foi estável nestes últimos anos por força do corte em 2020 e 2021 – COVID.
Terminamos por aqui a análise dos fundamentais, com uma empresa bem consolidada.
Por isso, vamos ver o contexto macroeconómico e o que faz andar esta empresa
Começamos precisamente pela base… as viagens de avião/turismo. Não havendo viagens e turismo, não há encomendas de aviões.
A prova disso é a correlação entre companhias aéreas e a Airbus… A candels está representada a Airbus, a Ryanair a vermelho, a Southwest Airlines a roxo e a Delta Airlines a verde. As escolhidas foram aleatórias de acordo com os tickers que o ChatGPT me devolveu…
Ao analisar o sector do turismo, encontrei uma estatística que mostra o crescimento deste sector, por percentagem do PIB mundial. Na imagem de baixo podemos ver uma previsão que afirma que o turismo vai ter mais peso na economia mundial nos próximos 10 anos e que vão aumentar o número de empregados na área também.

Para além disso, o crescimento da classe média na Índia e China fará com que haja também um crescimento nos viajantes desta área. Isso levará, acredito eu a um aumento das frotas nessas áreas e a nível global um aumento dos utilizadores, que por sinal, estima-se que cresça os hotéis e os pacotes de viagens (sim, são precisamente aqueles que incluem voos).

As principais companhias aéreas têm sido as low cost, muito beneficiadas na Europa e EUA, dado as curtas distâncias e especialmente à livre circulação de pessoas pelo Schengen no caso do primeiro continente.
As low cost destacam-se sobretudo pela sua eficiência, abolindo gastos desnecessários. E quando se fala em gastos, temos de falar obrigatoriamente em combustível, onde as companhias procuram ativamente poupar.
Para poupar há diversas estratégias podendo passar por comprar todas as aeronaves iguais, como é o caso da Southwest Airlines (LUV) e outra é comprar aviões mais eficientes.
E isto leva-nos às encomendas, onde a Airbus tem liderado.


Tudo isto é naturalmente positivo para estas empresas que deverão ver uma continuidade nas encomendas de aeronaves.
A Airbus viu o número de encomendas em 2024 diminuir, mas tem ainda pendentes 8749 encomendas. Isto é um crescimento de 9,5% face ao ano passado. Este ano a Airbus espera entregar 770 aviões, pelo que ao ritmo atual a Airbus tem o equivalente a mais de 11 anos de encomendas.

Por isso, o risco – neste caso de margens – reside do lado das matérias-primas, onde estamos a falar de titânio. A empresa comprava a maioria do titânio usado a empresas diretamente ou indiretamente relacionadas com a Rússia. Com o aumento das tensões isto poderia provocar disrupções, que têm conseguido contornar até então.
Outro risco para a empresa tem a ver com a eleição de Trump para presidente dos EUA. Ele já referiu aplicar taxas às importações Europeias que, a acontecer poderá prejudicar as vendas dos aviões comerciais da Airbus às companhias aéreas norte americanas. Teremos de esperar para ver, mas…
Também devemos ter em conta que as empresas em que a maioria dos seu aviões da Airbus, têm custos de formação e treino para fazer qualquer mudança, o que dificulta esta alteração.
E tudo isto está a acontecer numa altura em que a sazonalidade da empresa estaria favorável aos investidores. Até porque nos últimos 15 anos, os meses de outubro até fevereiro tendem a ser benéficos para os investidores.

Sobre o CAPEX, 67% deste é investido precisamente no principal segmento da Airbus, com a empresa a justificar a preparação de tecnologias do futuro e que alguns dos programas incluem o A321 XLR e o A350 Freighter.

A título de curiosidade, o primeiro começou agora a ser operado em novembro de 2024 pela Ibéria, fazendo um voo transatlântico.
Nos fatores macroeconómicos pode-se referir ainda o risco de câmbio dado que a maioria das aquisições da empresa são feitas em USD e a venda dos produtos em EUR. Apesar do hedge que as empresas fazem para reduzir estes riscos, a Airbus pode sair prejudicada em caso de valorização do EUR e beneficiada em caso de valorização do USD.
Por fim quero só falar das principais movimentações dos outros segmentos do portfólio com a aquisição da Aerovel e da Infodas.
Ambas operam em segmentos com futuro, onde a primeira é de pequenas aeronaves não tripuladas (drones) e a segunda uma empresa de cibersegurança.
Correrá bem? Só o tempo o dirá…
Finalmente, a sua avaliação.
Se leram os relatórios anteriores já devem ter reparado que eu gosto de avaliar empresas consolidadas pelo seu múltiplo de EV/EBITDA, olhando para os seus pontos mínimos no passado.
A Airbus claramente me parece uma empresa de futuro (sim, apesar das receitas estarem estagnadas) com apostas em áreas com possibilidade de crescimento e um bom MOAT. Prova disso tem sido o ROIC acima de 14% nos últimos 3 anos. Sim, só falo nos últimos 3 anos porque o COVID estraga a estatística com um ROIC negativo durante esse período.
E voltando ao EV/EBITDA este não está nos meus desejos de valores baixinhos e que permitem aproveitar as pechinchas de ações a preços baratos.
Por isso, vou ignorar o tempo do COVID em que as companhias aéreas face à incerteza cancelaram as suas encomendas e a Airbus se viu numa incerteza brutal…
… E vou apontar para o múltiplo EV/EBITDA por volta das 10x, com possíveis reforços (a analisar no momento) nas 8x. Atualmente está nos 11,4x, não sendo muito cara, mas não estando nos níveis desejados, principalmente pelas incertezas apontadas.

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